PREPARAÇÃO FÍSICA ESPECÍFICA

 

 

1. INTRODUÇÃO

2. AÇÕES MUSCULARES (MOTORAS) NA GINÁTICA ARTÍSTICA

2.1. Abertura 

2.2. Fechamento

2.3. Antepulsão

2.4. Retropulsão

2.5. Repulsão de ombros

2.6. Repulsão de braços

2.7 Repulsão de pernas

3. NA PRÁTICA

 

 

 

 

1.INTRODUÇÃO

 

          Do ponto de vista funcional, a ginástica artística é uma modalidade que podemos nomear “completa”, pois exige todos os tipos de movimentações do corpo, e imenso domínio dos movimentos: deslocamentos lentos, rápidos, rotações ao redor de todos os eixos do corpo, exercícios de força, outros que exigem amplitude máxima de movimento de uma articulação, posições de equilíbrio, envolvendo inúmeras ações motoras. Desta forma, a preparação física deve ser a mais completa possível, pois para realizar todas estas formas de movimentos, o ginasta deve ter um físico muito desenvolvido (Smoleuskiy & Gaverdouskiy, s.d.:259).

A preparação física e funcional do ginasta é feita em algumas etapas:  

-  Preparação física geral: exercícios que visam um fortalecimento e melhoria dos sistemas funcionais mais importantes do organismo do ginasta.

-  Preparação física específica: parte do trabalho de treinamento que visa aperfeiçoar e manter as qualidades físicas necessárias à realização dos elementos técnicos acrobáticos e ginásticos da modalidade.  

Para esta preparação física específica, é importante saber identificar, em uma técnica de Ginástica Artística, qual a musculatura principal envolvida, para poder fortalecê-la, melhorando especificamente aquele movimento. A identificação das articulações que necessitam aumento de flexibilidade também é de suma importância para um técnico de ginástica.

A força aumentada gerará potência ao movimento, capacidade de manter posições estáticas de força e até possibilidade de acelerar rotações e conseguir executar elementos técnicos cada vez mais difíceis. A flexibilidade será responsável pelo aumento da amplitude das alavancas corporais, associando-se ao ganho de impulso e leveza na busca de uma melhor performance. Servirá também para dar suavidade ao movimento, e possibilitar a execução de técnicas que exigem uma grande abertura de pernas, por exemplo os espacates, ou muita flexibilidade na articulação escápulo-umeral, como os giros cubitais na barra fixa e assimétricas.

Resta agora descobrirmos como fazer a análise de elemento técnico visando o planejamento da melhor preparação física específica. Carrasco (1982), apresenta a sistematização de 5 ações musculares básicas (abertura / fechamento / antepulsão / retropulsão / repulsão, esta última podendo subdividir-se em repulsão de pernas, braços e ombros), que envolvem grandes grupamentos musculares, e nos permitem facilmente identificar o trabalho de reforço a ser feito nos treinos físicos. Acompanhe as teorias de Carrasco, e ao final poderemos fazer a análise de uma técnica, identificando as ações, que Carrasco chama também de "ações motoras", conforme as teorias a seguir.

 

2. AÇÕES MUSCULARES (MOTORAS) NA GINÁSTICA ARTÍSTICA

 

2.1. ABERTURA

 

            Fazer abertura significa aumentar o ângulo pernas/tronco ou tronco/pernas (dependendo de qual das partes do corpo se fixa e qual se movimenta).  É uma ação motora de início, ou seja, inicia certos movimentos em apoio ou suspensão, dando-lhes impulso.

            O retardamento das pernas em direção ao tronco e depois sua projeção forte para trás cria uma energia cinética que, após bloqueio, transfere-se ao tronco sendo usada pelos membros superiores para impulso.

 

2.1.1) Pode ser: Pelas pernas na fixação do tronco (gera impulso de rotação para frente) ou pelo tronco na fixação das pernas (gera ipulso de rotação para trás).

 

2.1.2) Tipos   - Livre após fechamento.

                    - Associada: à antepulsão; retropulsão ou repulsão de braços/ombros.

 

2.1.3) Flexibilidade: Mobilidade para trás da coxa / tronco com alongamento de quadríceps.

 

2.1.4) Principais Grupos Musculares Envolvidos: grande glúteo e dorsais.

 

2.1.5) Musculatura Acessória: semitendíneo, semimembranáceo, bíceps crural, supra-espinhal.

 

                       

2.2. FECHAMENTO

 

            Fazer fechamento significa diminuir o ângulo pernas/tronco ou tronco/pernas (dependendo de qual das partes do corpo se fixa e qual se movimenta).  É uma ação motora de início, ou seja, inicia certos movimentos do apoio ou suspensão, dando-lhes impulso.

            O retardamento das pernas em direção ao tronco e depois sua projeção forte para frente cria uma energia cinética que, após bloqueio, transfere-se ao tronco sendo usada pelos membros superiores para impulso.

 

2.2.1) Pode ser: Pernas em direção ao tronco (gera impulso de rotação para trás) e tronco em direção às pernas (gera impulso de rotação para frente).

 

2.2.2) Tipos   - Parcial (feito com pernas afastadas ou unidas, o tronco vai até alinhar-se às pernas (zera-se o ângulo tronco/coxas) ou total (engajamento das pernas, gerando ângulo negativo entre tronco e coxas)

                    - Associada: - à antepulsão, retropulsão ou repulsão de ombros/braços

                       

2.2.3) Flexibilidade: Trabalhada no sentido de se aumentar a amplitude do fechamento entre tronco e pernas unidas e afastadas lateralmente.

 

2.2.4) Principais Grupos Musculares Envolvidos: Ílio-psoas e reto abdominal.

 

2.2.5) Musculatura Acessória: reto anterior da coxa, sartório, tensor da fáscia lata, pectíneo, adutores, oblíquos.

           

2.3. ANTEPULSÃO

 

            Fazer antepulsão significa elevar os braços lenta ou energicamente, com a finalidade de obter impulso para as rotações para trás.

 

2.3.1) Pode ser: Estática, nos exercícios onde se deve manter posturas na força (prancha facial nas argolas) ou dinâmica (giro livre de oitava na barra fixa ou paralelas assimétricas).

 

2.3.2) Com relação à posição das mãos, pode ser:

- Em pronação (oitava na barra fixa)

- Em supinação (giro de costas na barra fixa)

- Cubital (kip abaixo dos barrotes nas paralelas masculinas)

 

2.3.3) Associa-se a: Abertura ou fechamento.

 

2.3.4) Flexibilidade:

- Associação da mobilidade da articulação escápulo-umeral e da região superior da coluna vertebral. Obs.:  Esta flexibilidade pode ir até o deslocamento em certos elementos

 

2.3.5) Principais Grupos Musculares Envolvidos: Deltóide anterior e córaco-braquial

Obs.: Fixação do movimento: contração do trapézio e do grande denteado.

 

2.3.6) Musculatura Acessória: Deltóide (fibras médias), grande peitoral (fibras claviculares) e bíceps braquial.

 

2.4. RETROPULSÃO

 

            Fazer retropulsão significa abaixar os braços lenta ou energicamente, com a finalidade de obter impulso para as rotações para frente.

 

2.4.1) Pode ser: Estática (manutenção da prancha dorsal nas argolas) ou dinâmica (estabelecimento no tempo de kip)

 

2.4.2) Com relação à empunhadura, pode ser: Dorsal, palmar ou cubital.

 

2.4.3) Três amplitudes possíveis: - Pequena, média ou grande

 

2.4.4) Associa-se a: Abertura ou fechamento

 

2.4.5) Flexibilidade: - Mobilidade da articulação escápulo-umeral

- Deve ser trabalhada em pronação, supinação e cubital, devendo resultar no deslocamento.

 

2.4.6) Principais Grupos Musculares Envolvidos: Grande peitoral, grande dorsal, redondo maior e deltóide posterior

Obs.: Fixação do movimento: contração do trapézio e do rombóide

 

2.5. REPULSÃO DE OMBROS

 

            Fazer repulsão significa elevar os ombros (escápulas) com os braços erguidos acima da cabeça, estendidos (principalmente em apoio invertido).

 

2.5.1) Efeitos:

- Estético: amplitude de movimento, alinhamento, crescimento;

- Mecânico: ação com objetivo de obtenção de impulso para os movimentos.

 

A- Em apoio invertido:

- Estática (parada no solo, nas argolas, paralelas, trave)

- Dinâmica: - Dois ombros simultaneamente (übershlag e flic-flac para frente ou trás no solo)

- Alternadamente (valsas, trocas de frente na barra fixa)

B- Em apoio não invertido:

- Apoio nas paralelas

 

2.5.3) Conseqüências práticas:

- Crescimento máximo

- Eficaz para o apoio invertido quando associada à abertura

- Quando combinada com a antepulsão produz efeito mecânico excelente, evitando o fechamento do ângulo braço-tronco (evita o desencaixe)

 

2.5.4) Flexibilidade: - Não requer trabalho de flexibilidade

 

2.5.5) Principais Grupos Musculares Envolvidos: Trapézio (fibras superiores) e levantador da escápula

Obs.:   - Contração sinérgica dos músculos grandes denteados, trapézios e levantador da escápula

- Fixação do movimento: músculos flexores da coluna cervical

 

2.5.6) Musculatura Acessória: - Grande e pequeno rombóide

           

2.6. REPULSÃO DE BRAÇOS

 

            Fazer repulsão de braços significa, estando flexionados ou semi-flexionados,  estender os membros superiores como fonte de impulso para certos movimentos (principalmente em apoio invertido). Em ginástica olímpica, esta ação é feita principalmente no prolongamento do tronco, e geralmente vem seguida de uma imediata repulsão de ombros.

 

2.6.1) Associações: essencialmente associada à abertura

 

2.6.2) Tipos:  - Contração rápida (ex.: kipe de cabeça, oitava à parada no solo)

-  Contração lenta (ex.: subida para a posição de prancha na força - argolas)

 

2.6.3) Flexibilidade: Mobilidade normal dos cotovelos.

 

2.6.4) Principal Grupo  Muscular Envolvido:  Tríceps braquial.

 

2.6.5) Musculatura Acessória: Anconeo, extensores do antebraço.

 

2.7. REPULSÃO DE PERNAS

 

            O autor utiliza este termo para denominar a impulsão máxima das pernas, de maneira simultânea ou alternada, como fonte de impulso para a maioria dos movimentos da ginástica olímpica.

 

2.7.1) Efeitos: A repulsão simultânea das pernas tem por objetivo, através de uma impulsão no eixo longitudinal do corpo, gerar uma elevação máxima do centro de gravidade. Já a repulsão alternada de pernas objetiva gerar rotação para frente ou para trás do corpo.

 

2.7.2) Exemplos técnicos:

- Repulsão alternada de pernas: estrela, rondada, übershlag (reversão) no solo

- Repulsão simultânea de pernas: flic-flac para trás, para frente, mortal para frente, para trás, chamadas no salto sobre o cavalo.

 

2.7.3) Associações: Associa-se normalmente a ações motoras de braços (retropulsão / antepulsão).

 

2.7.4) Flexibilidade:

- Treinamento do grande afastamento de pernas ântero-posterior (espacatos) para a repulsão alternada de pernas.

- É necessário aumentar a flexibilidade de fechamento do ângulo perna-coxa e do ângulo coxa tronco, e também o alongamento dos isquiáticos da perna e adutores, utilizados em alguns elementos.

 

2.7.5) Principais Grupos Musculares Envolvidos:

- Face posterior da coxa: grande glúteo, semi-tendíneo, semi-membranáceo, bíceps crural.

- Face anterior da coxa: reto anterior da coxa, crural, vastos interno e externo.

- Face posterior da perna: gastrocnêmio, sóleo.

           

FONTE: CARRASCO, Roland. Tentativa de Sistematização da Aprendizagem – Ginástica Olímpica, São Paulo: Manole, 1982.

 

 3. NA PRÁTICA...

Na prática poderemos ver como fortalecer os grupamentos musculares das ações motoras, e como aumentar a flexibilidade específica a cada ação.

 

Vamos agora à análise de uma técnica, identificando as ações motoras principais presentes no elemento:

 

PONTE DINÂMICA DE FRENTE NO SOLO

 

  

  

  

   

Posição inicial: a fundo

Ao inclinar-se à frente a ginasta faz FECHAMENTO, e ao lançar a perna para trás e para o alto faz REPULSÃO ALTERNADA DE PERNAS

Há continuidade na REPULSÃO ALTERNADA DE PERNAS e inicia-se uma ABERTURA

Acentua-se a ABERTURA

A ginasta, após efetuar grande ABERTURA, realiza REPUSÃO DE OMBROS para facilitar o ato de erguer o tronco à posição de pé

Da fase anterior para esta é feito um FECHAMENTO para finalizar o elemento

 

A partir desta análise podemos prescrever atividades de fortalecimento muscular e flexibilidade. Veja abaixo exemplo de uma atividade para cada finalidade, específicas para as principais ações motoras presentes no movimento:

 

ABERTURA

FECHAMENTO

Flexibilidade

Força

Flexibilidade

Força

 

  

REPULSÃO ALTERNADA DE PERNAS

REPULSÃO DE OMBROS

Flexibilidade

Força

Flexibilidade

Força

 

 

Lançamento e/ou sustentação das pernas à frente, alternadamente

 

Esta ação motora não requer um trabalho específico de flexibilidade

 

Elevar o corpo empurrando o solo com os ombros

 

 

 

 

 

 

 

O número de séries, número de repetições e intensidade do treinamento de força deve ser dosado de acordo com a capacidade da ginasta ou turma de ginastas.

 

(Figuras extraídas de Martin, 1997)